Em um mundo que gira em ritmo frenético, onde a notificação do celular compete com a paisagem e a mente divaga entre mil e uma preocupações, a busca por um refúgio interior se torna cada vez mais premente. A meditação, outrora vista como um exótico ritual monástico, emerge hoje como uma bússola essencial para navegar a complexidade da existência. Mas o que realmente significa meditar? É parar de pensar, sentar-se como uma estátua de Buda intocada pelo mundo, ou uma jornada mais profunda e surpreendente?
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Uma das raízes do sofrimento humano, na visão da filosofia budista, está no que Buddha chamou de duḥkha, que pode ser traduzido como insatisfação. Isto se aplica hoje, da mesma forma que há 2.500 anos atrás. Hoje vivemos cada vez mais em busca de recompensas rápidas, quando conquistamos aquilo que desejávamos, depois de um tempo já desejamos outras coisas, nunca é suficiente. Mas essa sensação de insatisfação tem um antídoto: ampliarmos a visão e o coração para colhermos o que temos de bom aqui e agora. Pois é somente neste instante presente que podemos perceber que a vida em toda a sua magnificência se manifesta, não só nas belezas naturais, mas também através de nós mesmos e de nosso próprio olhar.
Essa amplidão da visão e do coração é o que podemos chamar de maravilhamento. O estado de maravilhamento com a vida parece requisitar, inicialmente, uma postura interior contemplativa, que por sua vez acontece quando há um encontro integral e silencioso com o momento presente.
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A primeira menção textual sobre a Meditação pode ser encontrada em uma escritura hindu datada do séc. VII a.C., que buscava refletir sobre a natureza da consciência humana. Este texto é o Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad e ele é um marco na literatura filosófico-religiosa indiana, pois inicia um questionamento sobre a existência humana diferente dos textos ainda mais antigos do Oriente, os Vedas, que já versavam reflexivamente sobre a existência e a natureza, mas ainda estavam muito focados nos rituais da religiosidade indiana antiga.
Os Upaniṣads surgem dentro do Hinduísmo com um foco maior nesta descoberta da natureza do Eu (Si-mesmo) ou, como dizia-se, da “verdade interior” (Flood, 2013). Reverberações desta visão mais profunda sobre a consciência humana irão influenciar nos milênios seguintes a filosofia budista Theravada, Tibetana e o Zen, e até as ciências da saúde a partir da elaboração do primeiro protocolo de Mindfulness de Jon Kabat-Zinn em 1979 na Universidade de Massachusetts.
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