A cosmologia é um dos ramos da astronomia que se debruça sobre a origem do universo. Seu desenvolvimento teve um caminho árduo na história do pensamento ocidental, pois sempre desafiou os paradigmas vigentes sobre a natureza da existência e, obviamente, sobre a relação entre deus e a vida.
Quando o padre e cosmólogo belga Lemaître observou que, com o tempo, as galáxias se afastavam continuamente umas das outras, ele desenvolveu a teoria do Big bang, ou seja, da explosão primordial, que deste então é a teoria mais aceita no meio científico. Mas eis que essa formulação nos deixou outros questionamentos que já haviam sido levantados por pensadores da Grécia antiga e do Oriente: “Se o universo teve começo, terá um fim?”, “O que existia antes?”, “Há um deus que criou o universo?”, “A vida surgiu ao acaso?”. Estas e outras questões são muitas vezes demasiado metafísicas para a ciência, muitas vezes rígida em seu ponto de vista. Tais questionamentos ousam apontar algo talvez inalcançável para a mente humana, um horizonte de mistério. Sem dúvida a ciência irá fazer novas descobertas e o nosso entendimento sobre o mundo material irá sempre desvelar novidades fantásticas, contudo, o mistério derradeiro sobre o que é o universo, sobre o que é a vida, permanecerá em abertura silenciosa.
Quando nos perguntamos sobre a origem do universo, se ele é finito ou infinito talvez estejamos nos esquecendo de um fato inegável, o de que nós somos o universo. Independentemente se acreditamos ou não em uma divindade criadora, a física nos descreve essa realidade claramente, como nas palavras do célebre astrofísico americano Neil deGrasse Tyson: “Estamos todos conectados; aos outros, biologicamente; à Terra, quimicamente; ao resto do universo, atomicamente.” Ou seja, a poeira estelar que formou nosso planeta, formou nossos corpos; o ferro em nosso sangue é o mesmo que esteve presente na formação e dissolução de antigas estrelas; nascemos da terra e à ela retornaremos. Esta reflexão nos leva ao reconhecimento de que não estamos separados dos outros seres humanos e dos animais, nem da natureza e da vida. As filosofias da antiguidade já apontavam para o fato de tudo estar conectado, como resume brilhantemente o filósofo britânico Alan Watts: “Nós não viemos a este mundo; viemos dele, como as folhas de uma árvore. Tal como o oceano produz ondas, o universo produz pessoas. Cada indivíduo é uma expressão de todo o reino da natureza, uma ação singular do universo total.”
A separação existe apenas em nossas mentes, riscamos o planeta com linhas imaginárias, entramos em conflitos por ideais etnocêntricos e culturais, somos a causa do mau trato e extinção de outras espécies que também compõem a Terra e destruímos a natureza para que possamos produzir nossos supérfluos bens de consumo. Mesmo assim, muitos ainda acreditam que suas “vidas” estão separadas do que acontece ao redor. Tudo isto tem um preço e nós já estamos pagando por ele. Para reverter esse processo precisamos de uma transformação individual e coletiva que leve em conta mais a coletividade, o respeito pelos outros seres e pelo planeta. Essa transformação passa exatamente pelo ponto inicial de nos reconhecermos como parte de um todo, de que somos um com o universo e com a vida.
~ Marcus Fonseca
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